sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

EPITÁFIO


Sou um ego ‘sem vergonha’ daquilo que não fiz
Um elo entre sonho e realidade
Sou alguma coisa passiva de desejos incandescentes
Um pensar largo de um fazer estreito
Embriago-me sem vinho, parto-me sem rumo
Ao golpe de um desafio me quebro em pedaços
Sou do mundo, desato laços
Na espera de um reino, de um castelo sem fissura
Na fagulha do que vejo, na entre morte do acaso.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

OPACO


A liberdade me esculpiu o fracasso
Eis aí o meu único norte
Não sou sopro nem vela
Qual a minha sorte?

Minha soberba cegou meus olhos
Entreguei-me à vertigem das coisas não simples
A simplicidade era algo de morte
Quem é que me acorda?

A vaidade revestiu meu corpo
Olhando no espelho parecia verdade
Aquela mentira envolvente
Por que ainda aplaudem?

Minha indignidade tornou-se austera
Mais digno era um moribundo sincero
Minhas palavras matam a semente
Quão grande é meu vazio?

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

TER DE VOLTA


O ter de volta enchem meus olhos de apetite
Como uma chama voraz que acende sem permissão
Retiro-me de meu mundo e acordo de meu torpor
Rasgo todas as vestes já conhecidas que de outras sucumbi
Dessa prisão fria que se fez minha amiga
Desse medo disfarçado de segurança que sempre me acompanhou
Estou só pra ser tua, nua
Flutuando numa imensidão que desconheço
Meu corpo tem marcas pesadas de um passado exacerbado
Calafrios que sobem em meu peito e se enroscam por completo
Estou ficando sóbria de um entorpecer platônico
Ficando ausente de um querer distante
Há mais liberdade agora que outrora, nesse poente longínquo que me sorri
Melodiando teus votos pra escutar com ouvindo de criança, leve
Perdendo-me como se ainda houvesse esperança...
Tenho fé nas tuas cochas, no envolvimento de teus laços
Na febre dos teus gemidos sinto-me abrigada
Percorro todas as curvas de tua estrada como se fosse o único caminho
Deleito-me em prazeres carnívoros e urgentes
Torno-me discípulo fervoroso de teus lábios
E fiel a tua boca me torno contente.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A JANELA DO QUARTO


Caminhando, pelas paredes do quarto até a sala de estar. Seguia a linha e observava a luz contornando a sombra dos móveis. Desde pequena até os longos anos que agora me encontro sentia o vazio como um sino de igreja, com aquele som arrebatador e suave, com necessária força para soar.
Do quarto que tinha e dos cômodos que percorria pouco me lembro, mas das sensações que ali encontrava e que só o meu mundo entendia, vejo claramente, como em um sonho fresco do despertar.
Da janela do meu quarto eu via aquela menina, um ponto longínquo e ofuscante, que me fazia parar. Caminha parece que dança, olha parece que fala, sorri parece que canta, e assim, me descobria paralisada e imóvel percorrendo o ar procurando um aroma para marcar esse momento único que tantas vezes se repetia, e que, cada vez mais único tornava-se.
Quantas vezes parei, na janela do meu quarto, só pra te ver passar, quantas vezes deixei minha vida de lado para o momento único da janela do quarto.
Todas as festas e datas comemorativas que preferia deixar passar, e como refúgio, para a janela do quarto voltava a olhar.
Podia descrever qual era à sombra de cada detalhe que via da janela, a qualquer hora do dia, em todas as fases da lua. Era ali que me alimentava, era ali que adormecia.
Aquela menina era o contraste das coisas que lá então permanecia. Ela não era como o cachorro da vizinha que hora ou outra latia, não era como a água da piscina que sempre derramava, mas nunca ficava vazia e também não era como o carteiro que dia sim, dia não, aparecia. A menina era algo mais, algo mais do que os carros que passavam, algo mais do que as crianças que brincavam, algo mais do que os jardins que floriam. Era da janela do quarto que buscava algo mais e era algo mais que a menina trazia.
Depois de muitos carnavais e natais percebi como a janela do quarto estava vazia. A minha menina, o brilho dos dias, já não aparecia.
Descobri que todos os detalhes que tinha e tudo que ali existia era apenas enfeite da menina. Até a janela do meu quarto, que antes me trazia alegria, morria com a ausência da menina.
Hoje olho pela janela e não vejo as coisas que antes via. Agora procuro a menina olhando no espelho e não mais pela janela vazia, e vejo que não tinha.
A janela do quarto, mórbida e sombria, o espelho nada mais do que possuía.
***